Entrevista com Ney Wilson
“A Copa Rio foi fundamental para o atual momento do judô brasileiro”, diz Ney Wilson
Idealizador do evento, ex-presidente do Judô Rio e atual gestor de Alto Rendimento da CBJ contou algumas histórias interessantes sobre a primeira competição nacional de clubes do país
Chegar à XIV edição mostra que a Copa Rio tem história. E o idealizador do evento, o professor Ney Wilson, ex-presidente do Judô Rio e atual gestor de Alto Rendimento da CBJ, contou algumas delas numa entrevista exclusiva para os sites da FJERJ e da Copa Rio. Uma mostra o quanto a competição, pioneira na disputa nacional entre clubes no Brasil, foi fundamental para o atual momento do judô nacional.
“Todo o movimento de mudança do judô nacional e a primeira eleição do professor Paulo Wanderley foram tratados e documentados dentro da Copa Rio. Foi ali que se plantou a primeira semente para chegar a esse status do judô brasileiro”, disse Ney.
A versão 2018 da Copa Rio Internacional será realizada de 07 a 09 de setembro na Arena da Juventude, em Deodoro. As inscrições estão abertas e podem ser feitas até o próximo dia 20 de agosto, através do portal www.zempo.com.br. Mais informações podem ser conseguidas no aba “Inscrições” do portal www.copario.judorio.org. Ter uma página da internet feita especialmente para o evento foi um dos pontos destacados por Ney Wilson para mostrar que a organização da competição está pensando grande, como a Copa Rio merece.
“É um grande orgulho ver a Copa Rio sendo resgatada e colocada num lugar que ela nunca deveria ter saído. Sendo tratada de forma grande, olhando para frente. Ela já está diferente, recuperando coisas boas que foram feitas no passado e trazendo coisas novas, como ter um site próprio, melhorando, evoluindo, como foi com o próprio lançamento da Copa Rio, com os cartazes ficando prontos com muita antecedência, tudo isso mostra o tamanho da competição. A Copa Rio tem muita história para ser esquecida.”.
Confira abaixo a entrevista completa.
FJERJ: Professor Ney, a Copa Rio foi idealizada durante a sua administração do Judô Rio. Como surgiu a ideia de realizar a competição?
Ney Wilson: A Copa Rio surgiu de uma necessidade, de uma demanda, porque na ocasião não existiam eventos nacionais por clube, como o Troféu Brasil e Grand Prix, só existia o Campeonato Brasileiro. Era uma demanda reprimida dos clubes que queriam uma competição para poder levar as suas equipes. Daí, a fama e o crescimento que ela teve muito grande e muito rápido. Foi numa época também que a administração da Federação do Rio de Janeiro era oposição à da Confederação Brasileira. Então, sempre foi uma luta muito grande para poder executar a Copa Rio mas, por outro lado, foi muito desafiador no sentido de que tivemos uma adesão dos maiores ídolos do judô brasileiro na ocasião. Nós chegamos a ter na Copa Rio nomes como Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Carlos Honorato, todos já medalhistas olímpicos. A Copa Rio foi a primeira competição nesse nível e depois surgiram outras. Ela foi pioneira, marcou época. Se você pegar a antiga geração, todos eles participaram da Copa Rio. A gente chegou a ter Copa Rio com 120 atletas numa única chave. O judoca tinha que fazer 8 ou 9 lutas para chegar ao pódio. Uma competição bastante dura, bastante difícil.
FJERJ: E a ideia de fazer a competição foi sua?
NW: Não gosto muito de personalizar. Na verdade, a história é que como eu tinha muita experiência já fora do país, já viajava muito, via que a organização de eventos no Brasil, pela gestão da CBJ na época, era muito ruim. Já que eu estava entrando novo da presidência da Federação e a minha proposta era exatamente desenvolver a área técnica, eu queria realizar eventos com organização de padrão internacional. Tanto é que a Federação do Rio foi a primeira a ter tatames importados, justamente para a realização da Copa Rio. Foram importados da Alemanha, na ocasião isso não existia. Sempre com muita dificuldade, mas a gente tinha a busca desse objetivo, de realizar um evento reconhecido internacionalmente pelo nível de organização e pelo nível técnico. Depois foram surgindo essas ideias de realizar os seminários, encontros, feira, exposições… A gente chegou a realizar nos principais ginásios do Rio de Janeiro, no Maracanãzinho, no Caio Martins. Isso foi a principal motivação de tentar fazer, mas era uma questão de oportunidades que eu tive, de estar viajando, estar conhecendo pessoas e isso facilitou o convite para os clubes de outros países.
FJERJ: E como a Copa Rio, pensada inicialmente para dar visibilidade aos clubes de judô do Brasil, virou internacional?
NW: Gradativamente, com o crescimento com a competição, que chegou a ter 3 mil atletas, o que para aquela ocasião era um número inédito e extraordinário, nunca havia tido eventos no Brasil e poucos fora do Brasil com essa quantidade de atletas, também atraiu a curiosidade, a vontade de participação de clubes estrangeiros. Tivemos participação de atletas renomados internacionais, clubes fortes da França, Alemanha, Argentina, Chile, Equador, Colômbia, dentre outros países.
FJERJ: O senhor falou de seminários, feiras, exposições… Como funcionava isso?
NW: Na Copa Rio a gente sempre procurou agregar além da competição. Procuramos sempre realizar exposições com os principais ídolos do judô brasileiro, colocando à amostra judoguis, medalhas, etc; fizemos congressos internacionais com participação de vários estudos do Brasil e de fora; realizamos talvez a maior feira de produtos ligados ao judô no Brasil. Enfim, a gente sempre procurava agregar algo além da competição. Isso era um fator de motivação e de atração para o público. Sempre foi um sucesso muito grande.
FJERJ: Um sucesso tão grande que até um movimento para transformar o judô brasileiro surgiu nela…
NW: Acho que é importante destacar isso. Todo o movimento de mudança do judô nacional e a primeira eleição do professor Paulo Wanderley foram tratados e documentados dentro da Copa Rio. Todo esse processo foi feito dentro da Copa Rio, mais precisamente no hotel Merlin, na Rua Princesa Isabel, em Copacabana. Foi ali que se plantou a primeira semente para chegar a esse status do judô brasileiro.
FJERJ: E agora nesse novo momento, a Copa Rio volta ao cenário nacional, renascendo depois de um período sem ser realizada. O que esperar da edição desse ano na sua opinião?
NW: Exatamente por conta da chegada da nova administração da CBJ, com o professor Paulo Wanderley, novos eventos foram sendo criados e, obviamente, a Copa Rio foi diminuindo a sua importância. Ficou um período sem ser realizada. E hoje, com a administração do Jucinei, se resgata todos esses valores, da importância dos clubes, da participação da maioria das Federações Estaduais como sempre foi. Acredito que esse ano a Copa Rio tenha um embalo diferente. Já tenho ciência de que a equipe do Chile, que será a mesma que estará representando o país no Campeonato Mundial, uma equipe forte, vai fazer uma boa competição, estará aqui. E os principais clubes estão vindo. Aos poucos, a nova administração da FJERJ vai colocar a Copa Rio no lugar que ela merece por tudo que ela construiu para o judô brasileiro.
FJERJ: Para encerrar, como o senhor vê esse renascimento da Copa Rio, um evento marcante na história do judô brasileiro pelos diversos motivos já citados?
NW: Difícil transformar isso em palavras. Na verdade, é um grande orgulho ver a Copa Rio sendo resgatada e colocada num lugar que ela nunca deveria ter saído. Sendo tratada de forma grande, olhando para frente. Ela já está diferente, recuperando coisas boas que foram feitas no passado e trazendo coisas novas, como ter um site próprio, melhorando, evoluindo, como foi com o próprio lançamento da Copa Rio, com os cartazes ficando prontos com muita antecedência, tudo isso mostra o tamanho da competição. A Copa Rio tem muita história para ser esquecida.